segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Quase me atrasei. Na verdade, o sentimento de escrever aqui é confuso ainda: por parte, quero e desejei ajudar outras pessoas, mas por outro lado, quero também me ajudar a superar a ausência física de meu pai e pode ser que até no "ausência física" já seja uma forma de eu negar sua morte. Bem, a questão que coloquei-me foi: como superar o luto se você está falando dele? E outra surgiu: por que não falar do luto e não aprender com essa experiência maravilhosa que é o luto. Não, queridos, não achei maravilhoso no sentido de desejar isso, por favor, sejamos racionais, mas estou vendo-a (e vivenciando-a) com a intensidade que ela imprime à situação. Hoje, achei que voltando ao trabalho, eu iria me superar, mas bastou uns alunos me abraçarem para pesadas lágrimas rolarem pelos meus olhos. Tive que contar tudo para eles! E ainda tem também a raiva das pessoas que até agora não se manifestaram! De fato, os sentimentos são confusos: gostaria de inundar o mundo com meu amor, como fazem nos filmes (ridículo escrever isso na minha idade, mas vamos lá...) de ser um super herói que salva o mundo inspirado pelo amor do pai. Mas... como? A única pessoa que estou tentando salvar aqui sou eu mesmo. De vez em quando penso como seria bom poder ter alguém que me dissesse que de fato sou ouvido pelo meu pai. Mas o que estou dizendo? É exatamente isso que nos atormenta em relação à morte e nos fascina também: seu mistério... De qualquer modo, não posso negar, a experiência transformou-me e também transformou meu ser...

domingo, 10 de novembro de 2013

Oi pai! Quer ter dito para você que eu te amo, apesar de todas as nossas brigas. Que hoje, como medo que a sua ausência me causou, eu entendo todas as suas preocupações e medos. Como entendo. Queria também te dizer que já estou sentindo falta. Lembra quando eu dizia que você exagerava na dose de amor? Chegava a enjoar, pai. Mas, hoje, olhando sua foto refletindo a vela, como sinto falta de brigar com você. E de fazer as pazes, porque você inabalável no seu amor, me perdoava sempre, o que fazia eu me sentir culpado muitas vezes, viu? Mas, quero que saiba eu te amo muito. Tá difícil não escrever e dizer eu te amo, mas tinha "eu te amo" escondido também em cada grito de "eu te odeio", "você é chato" e outros até piores. Não, não é culpa pai, é apenas uma forma de dizer o que estou sentindo, que no fundo, nos amamos pra valer. Que filhos podem dizer que o pai nunca levantou um dedo para agredi-lo? Que filhos podem falar que o pai foi em show de rock, em boate gay e que o levou para fazer suas tatuagens? Que filhos podem falar "mandei meu pai pros quintos dos infernos e ele nem ligou"? Que filhos tiveram tudo, tudo, tudo que uma pessoa pode querer? Brinquedos, roupas, discos, cds, passeios, viagens, estudo, diversão, tudo, tudo, tudo, pai? Não sei quantos e nem tenho interesse em ficar esnobando, mas você é o melhor pai do mundo. Ok, clichê até dizer chega e claro, quem lê isso vai pensar no mínimo "hunf, e eu com isso?". Nem sei porque eu fui inventar de fazer isso, mas acho que é para continuar falando com você. São 1: 36 da manhã, pai. Tenho que ir dormir. Vontade não estou, mas tenho que dormir. Beijos imensos e tomara que no/do outro plano você possa ver tudo isso!

sábado, 9 de novembro de 2013

Contagem

Poucas coisas são tão difíceis de mensurar como o tempo. Psicologicamente falando, o tempo tem percepções diferentes, conforme a situação que vivenciamos. Para o ansioso o tempo passa muito rápido, não há tempo para nada. Para o deprimido, o tempo parece estar congelado, inerte, oco e vazio. Ambos os tempos aqui agora se mesclam em mim: espero poder ajudar outros, que como eu, vivenciam, vivenciaram ou irão vivenciar a dor da perda. No entanto, sou sabedor que cada um elabora as situações de acordo com suas próprias vivências. Que eu possa contar com você!